Isto não é uma pimenteira
a
fotografar aquilo que se colhe em casa
Sei
de quando começou-se o registro por imagem, como um todo
Mas
quem teve a ideia de fotografar um chuchu colhido na horta
amadora,
não
sei. Ouso dizer que a partir daquela primeira foto, ainda de revelação
não-instantânea,
a Língua Portuguesa do Brasil, na qual rejeitamos
o
uso da preposição equivalente à masculina quando tratamos da captura,
registrou
o que chamo,
carinhosamente,
variação
genérica. A explicação prática do uso dá-se pela aplicação da estratégia:
podendo,
na década de 80, enviar ao dono da plantação caseira
uma
fotografia daquele belíssimo pé-de-tomate que tornou-se responsabilidade
de quem permaneceu na propriedade na situação da ausência por
1) doença, 2) andança, 3) trabalho, 4) parente distante, 5) morte ou 6) ou motivo desconhecido por distanciamento temporal
na
intenção de mostrar que os cuidados exercidos sobre a planta/ hortaliça estavam
efetivos.
Ou,
talvez em casos mais comuns, para originar a rapidez de compartilhamento,
presente
no cotidiano daqueles que vivem redes sociais,
a
fotografia mortuária de planta. Esse tipo de registro não começou pelo vegetal,
apático,
encéfalo, murcho e cabisbaixo, mas com o início do que é inevitável:
“Envio
junto dessa carta o foto do meu jiloeiro
que
começou a se comportar de maneira diversa
perdendo
flores e frutinhos como quem se deprime.
Aguo
sempre pela manhã e ao pé da noite e para cá
de
uma semana,
ele começou a afofar. Por favor,
ajude-me
que meu pai, que já não pode mais
preparar
insumos pro quintal, come só essa mistura.”
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