Foi como se o meu eu espelhado fosse outro. De algum modo era, porque aquela não era eu. É clichê dizer que a imagem se mexia sem que eu fizesse qualquer movimento. É também clichê dizer que quando eu fui, ela ficou. Ficou e se apossou da vida que deveria ser minha. Como gêmea, mesma cara. Mesmo corpo. Mesmo andar. Mas ao contrário de gêmeos - que têm vidas independentes - ela dependia da minha imagem. Minha imagem, com outra vida. Cansou-se de mim. De estar limitada a mim. Preferiu tingir os cabelos de vermelho. Me atingia, e eu não me refletia. Unhas sempre bem feitas e pretas. Não se importava com mais nada, e eu já não aparecia para mim. Foi como ser vampira. Como se eu tivesse atrapalhado minha própria vida. Vida dela, na realidade. Eu a suguei. A extorqui a possibilidade de ela ser vida, não apenas imagem. Minha vida estava virada. Virou, porque reconheciam a ela, e eu era a estranha. Foi difícil entender, mas ela se livrou da atadur
retratos em texto de criação escrita, poética e estética, de quaisquer assuntos que possam ser relatados e descritos em imagem.