Seria muito bom poder escrever
algo depois de morrer.
Poder contar com clareza como foi
que vivi. Poder dissertar sobre ela sem a dúvida de ter vivido bem ou se fiz
tudo direito e contar a todos que consegui ser feliz. Ter como descrever para todos como é a
sensação da vida após essa.
Dizem que você morre da mesma
forma que se nasce: sozinho. No entanto seria muito esnobe de minha parte ter a
oportunidade de contar que, assim como em vários assuntos ligados a mim,
aconteceu uma anomalia. Nasci só, mas minha morte foi diferente.
Sem muitos segredos, apesar de
minhas dúvidas e desconfianças de mamãe, tive uma longa e bela vida. Não que eu
não tenha tido momentos amargos ao longo dela, mas consegui contorná-los. Tive
um casamento estável, assim como a minha condição financeira. Um filho lindo, (é, sou do tipo mãe coruja).
Meu marido foi sempre fiel e
amável, e até com alguns atritos entre ele e mamãe, e com outros entre eu e a
mãe dele, vivemos em paz. Não morávamos no campo e muito menos na praia, sempre
fui branca demais e o sol nunca paciente comigo. Morávamos num apartamento
comum, bem no centro da cidade, e tínhamos um carro popular.
Dei à minha mãe um apartamento
simples, e um carro barato. Mas consegui depois de tanto “rala” dar a ela conforto.
Tudo normal.
Uma vida praticamente utópica para
milhares de pessoas. Aos olhos daqueles que não conhecem o amor, mais
fantasiosa era impossível. Família normal, com parentes chatos e cachorro
histérico. Os mesmo desafios de todos: hipoteca da casa, reforma da casa,
roupas novas a ser comprada, comida, material escolar... Porém uma coisa fez
toda a diferença. Uma coisa apenas tornou tudo diferente e fácil de ser
enfrentado, e permitiu que uma graça maior acontecesse. Que o meu marido e eu,
partíssemos “dessa pra melhor” juntos: o amor verdadeiro. O amor que vem de Deus.
Nada corria na mais perfeita
serenidade. Mesmo com tantos problemas comuns, morremos juntos, só pra
tornarmos a nossa vida mais doce. Depois de tanto tempo juntos, a velhice
chegou e em fim podemos descansar. Morremos dormindo, um ao lado do outro.
Juntos como sempre estivemos. Sempre um respeitando o espaço do outro.
Hoje, aqui no paraíso, da mesma
forma da época em que namorávamos, ele chama bem alto por mim, e grita: EU TE AMO!
O amor verdadeiro ecoa na
eternidade.
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