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Um brinde à escrita


 É crueldade, das piores, privar alguém de escrever. Ainda mais alguém que ama tanto fazê-lo.
 Mastigar-lhe os dedos e triturar o seu cérebro.
 Pare de pensar.
 Pare de respirar.
 Tapar-lhe a boca e emudecer seus lábios.
 É crueldade viver sem devaneios. É crueldade não poder escrever até quando se quer.
 Liberdade de expressão. Liberdade para escrever, quando necessário ou quando desnecessário.
 Escrever é labor. Escrever é hobby. Escrever é acalmar para aqueles que sabem. É também estresse para aqueles que não.
 Alguns que escrevem para viver. Outros que escrevem para desabafar.
 Da mesma maneira dos que choram, comem, fumam ou bebem. Ou da mesma daqueles que falam muito verbalmente ou que simplesmente se enterram numa cama.
 Pelo direito de ser. Pelo direito de escrever. Pelo de muitos que morreram por ela. Daqueles que morreram sem ou com ela. Com as palavras escritas com pena, ou com tinta de caneta, com também desenhos que expressem o sentimento. De dor ou de alegria. Com os dedos a fazer letras no ar. Por aqueles que não puderam escrever, por não saberem e por aqueles que sabem como escrever e não escrevem.
 A fala, não mais importante que a escrita. Essa não menos importante que qualquer outra coisa e nem mais importante. Pra alguns.
 E para aqueles que se baseiam disso? Os que se baseiam na escrita.
 Para mim, nada, nenhuma matéria deveria vir abaixo dela. Quero um dia viver, e morrer por ela. Com grande amor e dedicação como tantos outros profissionais. Como os médicos, como os bons professores. Também como os advogados e como os políticos responsáveis e verdadeiramente comprometidos. Se é que esses existem. Assim como a dona de casa que dedica a vida a seus filhos e da mesma forma que um dentista ou veterinário cuida de seus pacientes.
 O escritor. Tão profissional como qualquer outro, mas com um quê a mais de emoção e uma pitada menor de racionalização.
 Igualmente diferente àqueles que morrem jovens, fazem vários poemas e o publicam em uma única edição póstuma. Ou como o artista plástico que é, muito mais tarde após a sua morte, visto de forma oposta, ao seu sexo. Como se seu quadro fosse ele, na versão feminina. Da mesma maneira que o cantor do rock, que fez história, pôde ser homossexual e hoje ainda têm agressões homofóbicas.
 Porque os que mais pregaram a paz ou tinham pouca vestimenta, ou eram negros, e até mesmo "rei", ou com cara de mendigos, ou mesmo usavam óculos redondos, ou tinham aparência comum, sofreram preconceitos. Mas não deixaram de se expressar. Escreveram ou tiveram suas palavras escritas e re-escritas por vários em inúmeras citações.
 São esses os "escritas". À eles, um brinde!

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