Qual é a “idade certa” para falar
disso ou daquilo? De fato existe uma em que é pertinente determinada maturidade
à criança, mas elas não amadurecem exatamente juntas. Umas antes, outras
depois.
Quando, há um tempo, o sexo não era
assunto de forma alguma e crianças o descobriam e engravidavam, essa era a
justificativa dos fins. Se nada era dito, como acontecia de crianças
engravidarem? O que quero dizer é, se nada era falado, quem as influenciava?
Elas não tinham noção de serem órgãos reprodutores ambulantes (como socialmente
são tratadas) e que à flor da idade são bastante férteis.
Conversar sobre sexualidade, não é
tornar o sexo banal. Ter “noções de sexualidade”, não é incentivar que o sexo
seja praticado. Falar de sexualidade com uma criança é educá-la para sua vida
sexual. É muita inocência pensar que é por causa dos livros didáticos que se
perde a “inocência” de uma criança.
Somente em 1990 foi criado o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), dando a ela o significado do que é
ser criança, que regulamenta os direitos humanos da criança e do adolescente,
dando a eles o devido valor. Dá o direito à criança de ser criança, fazer
coisas de criança e garante a elas o direito de viverem como tal.
O sexo virar “assunto popular”, como
na música “Chão de Giz”, de Zé Ramalho, é mérito de quem o pratica. Falar que o
sexo traz doenças e traz a gravidez (incluindo a indesejada) é natural mesmo.
Acredito que falando como a escola
diz, causa justamente o oposto: traz o medo e, principalmente, meninas/
mulheres ficam com medo de fazer. Acreditam na dor que irão sentir, acreditam
que homens são sempre canalhas e irão se aproveitar delas, afinal, elas são
mesmo vulneráveis e totalmente dependentes. Acreditam que irão engravidar desde
a primeira vez que transarem, que aquilo não será bom pra elas.
Professores que ensinam para as
meninas, como se os meninos fossem inexistentes em sala, (acabam assim
perpetuando o pensamento machista), que elas devem se prevenir, dando
recomendações somente a elas. Criam, então, a convicção nas meninas de que a
sociedade irá descobrir assim que elas tiverem praticado o coito, e então serão
condenadas por isso.
Quando, na verdade, o que deveria
acontecer é: “Sexo existe, assim que grande parte de vocês foi gerado. É bom,
para a maioria das pessoas, porque existem pessoas que não gostam. E existem
pessoas que gostam de fazer com pessoas do mesmo sexo e é todo mundo igual. Mas
vocês devem saber que é possível ter relações e não ficar doentes. E não
engravidarem”. É gerar a consciência de que sexo é normal, mas exige
responsabilidade, maturidade mental e não somente sexual. Dizer o que realmente
é e fazer com que a criança, o jovem, assuma para si a responsabilidade de
crescer.
Quando a criança começa a se
interessar por esses assuntos, ela está ingressando numa nova fase da vida, a
adolescência. É normal que ela se interesse por novas brincadeiras, que queira
ter novas experiências. Para o ECA é considerada criança a pessoa com idade
inferior a 12 anos e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade. Culturalmente
no Brasil se considera adolescente a partir dos 13 anos. Já o Estatuto da
Juventude, LEI Nº 12.852, considera o
jovem a pessoa até 29 anos de idade, mas que culturalmente no Brasil se
considera até os 24 anos.
A escola, bem como os pais e a
família, falha em não dizer que cada um é dono de seu corpo, falha ao não
ensinar que cada um deve ter responsabilidade sobre sua própria vida, sobre
seus atos.
Saber quando a gravidez acontecer,
ela deve ter responsabilidade sobre o filho e deve ter condições de mantê-lo. O
menino que engravidou precisará ter consciência de que responsabilidades
paternas devem existir e que ele tem obrigações sobre o filho. E essa
maturidade deve ser cultivada, criada em cada um, e por isso devem saber que
existe o momento certo de terem relações.
Normalmente, quando a gravidez
indesejada acontece, eles são só crianças e inconsequentes, situação na qual os
pais (avós) se veem na responsabilidade de criar os netos, pois não educaram os
filhos doutra forma. Preferiram não falar sobre sexo, ou deixar que tivessem
medo daquilo.
O mesmo teor argumentativo é usado
contra a distribuição gratuita de contraceptivos e preservativos. Distribuí-los
não é incentivar, é enxergar o que acontece, é orientar para que aconteça o
sexo de maneira consciente. A sociedade evolui e as crianças de 12 anos de “antigamente”
não são como as crianças de hoje. Hoje elas são mesmo levadas à perda da
infantilidade. Mas o caminho é mesmo botar a culpa no ensino de sexualidade?
Não falar sobre um assunto, não tratar de determinado tema, não faz com que ele
deixe de existir. É preciso falar sobre para evitar que aconteça a gravidez na
adolescência.
Na Suécia, em 1942, o governo
recomendou que as escolas ensinassem questões relacionadas à diferença entre
sexos, sobre aparelho reprodutor e à higiene pessoal. Em 1970 isso mudou
radicalmente e a ênfase passou para a educação para a sexualidade, os afetos e
as vidas em comum, tornando o tema escolar mais “suave” e “humano”, de acordo
com o site Esquerda.net.
Lá a educação sexual apresenta
quatro fases, de acordo com a idade dos alunos. Dos sete aos dez anos, os
assuntos estudados são a menstruarão, o prazer com o próprio corpo, os
contraceptivos, a fertilização, a gravidez e o parto, e nos próximos níveis
esses temas são ajustados à maturidade dos alunos. Entre os dez e os 13 anos
são estudas as alterações físicas que ocorrem na puberdade, as doenças
venéreas, o exibicionismo, a homossexualidade e a pedofilia. Dos 13 aos 16
fazem parte do programa a desconstrução dos papéis sexuais e dos estereótipos,
a família e o casamento do ponto de vista de diversas culturas, o aborto, a
pornografia, a prostituição, a troca de carícias, a AIDS e o sexo seguro. A
partir dos 16 anos são tratados os temas: desejo sexual e as variações de força
e orientação, as paixões e as disfunções sexuais. Além da educação sexual nas
escolas, a Suécia tem cerca de 150 clínicas de atendimento a jovens, tendo sido
aberta a primeira em 1960.
A Suécia ainda é considerada um dos
países mais socialmente justos da atualidade, apresentando um dos mais baixos
níveis de desigualdade de renda do mundo. Isso reflete no fato da Suécia estar,
desde que a ONU começou a calcular o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
entre seus membros da década de 1980, entre os mais bem colocados países do
mundo. E a seu sistema educacional, se não é, deveria ser exemplo para todo o
restante do mundo.
As escolas brasileiras não estão
preparadas para receberem professores que ensinem a sexualidade de fato, e isso
resulta nos pais que não foram educados a educar seus filhos. A educação no
Brasil é um tabu, bem como a sexualidade, de modo geral é outro, a sexualidade
feminina é ainda mais.
Isabella, Bella. Seus argumentos são consistentes e sua exposição bastante coerente. A sexualidade é, de fato um tabu e deve ser melhor conduzida. O exemplo da Suécia cai como uma luva devido aos argumentos que você apresentou. No entanto, o sistema sueco é desenvolvido por e para os suecos que, desde os Vikings, têm um comportamento sexual e uma postura diante deste assunto bem diversa daquela que nos guiou até os dias de hoje. Nossa visão judaico-católica, eivada de conceitos castrativos e coercitivos neste assunto nos poluiu desde nosso descobrimento até os dias de hoje. Nossos professores, políticos, pesquisadores, pais, etc. nasceram e foram criados sob a égide desta forma de pensar e agir. Reputo como necessária uma revisão deste pensamento / comportamento mas temos que compreender que estas mudanças serão mais difíceis e demoradas que no paradigma nórdico. Também é prudente pensar que a forma seja diferente daquela proposta pelos suecos.Enfim, a mudança é necessária e já começou. Só não podemos prever ONDE vai dar.
ResponderExcluirIsabella, Bella. Seus argumentos são consistentes e sua exposição bastante coerente. A sexualidade é, de fato um tabu e deve ser melhor conduzida. O exemplo da Suécia cai como uma luva devido aos argumentos que você apresentou. No entanto, o sistema sueco é desenvolvido por e para os suecos que, desde os Vikings, têm um comportamento sexual e uma postura diante deste assunto bem diversa daquela que nos guiou até os dias de hoje. Nossa visão judaico-católica, eivada de conceitos castrativos e coercitivos neste assunto nos poluiu desde nosso descobrimento até os dias de hoje. Nossos professores, políticos, pesquisadores, pais, etc. nasceram e foram criados sob a égide desta forma de pensar e agir. Reputo como necessária uma revisão deste pensamento / comportamento mas temos que compreender que estas mudanças serão mais difíceis e demoradas que no paradigma nórdico. Também é prudente pensar que a forma seja diferente daquela proposta pelos suecos.Enfim, a mudança é necessária e já começou. Só não podemos prever ONDE vai dar.
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