Depois de muito chover, o céu voltava ao límpido azul e nós àquele mesmo banco, antes rodeado de verde e hoje coberto de lodo. Era o hoje de algum tempo marcando atualidade porque, depois de um mês sem o jardim, recebíamos a mesma brisa de quanto dávamos voltas falando, repetindo, dizendo e desdizendo, assoviando, sibilando e piando, e nos convencendo, de que não queríamos mais nada além do sentimento de liberdade.
Éramos nós dois. Nós e sozinhos. Sozinhos a desalinhar todo novelo de capim a se formar ali na seca e a tremular toda haste fina e frágil de flor que desabrochava naquela manhã fresca. Nos olhávamos olhos nos olhos e eu, sinceramente, não tinha esperanças de que ele falasse, afinal, aquela história nunca seria de amor. Ele, quando muito, chiava uns ‘humhum’ e eu, bem, eu queria que o vento me cantasse e minha voz beijasse o mundo.
Nunca pedi para que dissesse algo e nem houve hora em que eu lhe pedisse um único beijo. Não fosse por nossa plenitude individual eu cabendo em mim de cabelos lisos e rentes aos ombros, e ele de peito rígido e olhar duro, respirando compassadamente, seria por minha infelicidade em não fazer tão habilidosos movimentos e, assim, dobrar o ar e me equivaler à paina lambiscando cada gotinha de nuvem.
Não, ele não aprenderia a caminhar comigo e nós não nascemos para um monorromance.
Sobrevoou minha cabeça e partiu sozinho, rasgando o nosso céu ao meio. Deixou metade comigo só e me fez ter certeza de que nós só coexistiríamos em tempestade. Desde então, habito a calmaria.
(Isabella - 13 de dezembro de 2017)
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