Ainda quando muito pequena, aprendi que a densidade das horas, somada ao tempo e à baixa temperatura, formava no ar uma cortina de neblina passível de ser cortada. Era assim que lá na roça o povo falava, "cortar o ar com a mão". Também veio de lá o "frio de cortar". Não muito distante, consegui cair e cortar o queixo: ora, queixo por queixo, a reclama vem pelo talho na pele. Cabelo também se corta, mas o meu quem aparava era minha avó que pra mim partir só partia bolo, depois de esfriar para não dar dor de barriga (afinal, cortar caganeira dava trabalho demais). Até o dia em que ela não estava mais ali para saber da lua. As unhas, formadas pela mesma queratina dos cabelos (eu soube mais tarde), mas em condições e por isso com funções diferentes, eu passei a cortar com os dentes. Assim, dentre cortar o rio com uma varinha e atalhar caminhos, atravessando pelo meio do pasto, acabei dividida entre meu pai e minha mãe. Num corte temporal, quando meu pai e eu tomáv
retratos em texto de criação escrita, poética e estética, de quaisquer assuntos que possam ser relatados e descritos em imagem.